Em praticamente todas as culturas tribais africanas praticam-se tradições espirituais ancestrais. Os antepassados de uma tribo são honrados como espíritos que preservam os padrões morais da vida tribal.
Também são considerados como os intermediários entre os vivos e os poderes divinos. Os primeiros missionários Cristãos chamavam as práticas africanas de “Veneração dos Antepassados”.
As tradições ancestrais africanas têm uma relação muito mais interativa com os antepassados mortos.
Bert Hellinger descreveu, em termos gerais, algumas práticas ancestrais Zulus:
“A maneira como os Zulus o fazem é enterrando os mortos e logo, ao cabo de um ano, os falecidos são bem vindos de regresso ao lar através de um ritual. Os membros da família pegam num ramo e imaginam que o antepassado está sentado sobre o ramo, que é arrastado para o interior da casa. Uma certa parte da choça é reservada para os antepassados e é onde os mortos têm o seu lugar. O seu lugar é sempre onde se encontra a cerveja. Quando alguém toma uma cerveja, dá umas poucas gotas aos antepassados.”
Nas práticas africanas, a relação entre uma pessoa e os seus antepassados é vista como uma relação simbiótica que vai em ambos os sentidos e influencia ambas as direções. Os integrantes das tribos africanas trabalham em colaboração com os seus antepassados para a cura.
Segundo Heidi Holland (2001), as crenças tradicionais africanas assentam-se em três temas principais:
•Imagens sagradas, como deuses e antepassados que regulam o universo tradicional.
•Rituais e cerimônias por meio das quais estas imagens sagradas comunicam os padrões morais em relação à cultura viva.
•Os representantes terrenos dos deuses e antepassados – curandeiros tradicionais, adivinhos, profetas, sacerdotes e reis sagrados – que são os servos da comunidade com papéis de mediar o sagrado para as pessoas através de rituais e adivinhação.
As imagens sagradas africanas são principalmente espíritos de antepassados. Deus é o criador, a força espiritual responsável de toda a vida na terra, incluindo os antepassados, mas Ele está demasiado longe para ouvir as orações dos mortais comuns e correntes. Os antepassados mortos, sendo espíritos, comunicam-se com Deus, mediando entre Ele e a humanidade.
Isto ressoa com a ideia de Bert, que muitas pessoas tratam de evitar os seus pais seguindo um caminho espiritual:
“Uma motivação habitual para a procura por Deus, é que, quem o procura não tem um pai e está à sua procura. Se o pai é encontrado, quem procura por Deus já não é tão importante – ou é indiferente.”
Segundo Holland (2003), os curandeiros ou adivinhos tradicionais – os profetas, médicos, psicólogos e exorcistas da cultura africana – são pessoas escolhidas pelos o antepassados para interpretar a vontade de Deus na terra.
Na África Ocidental, existe um ritual anual de dança em que os espíritos dos antepassados distinguidos “aterram” sobre as cabeças de homens para possui-los espiritualmente. Cada clã têm um par mítico de fundadores, cujo filho, como o mais velho dos antepassados, é quem tem o poder absoluto sobre todos os espíritos ancestrais. O chefe do clã (o mais velho dos homens) obtém o seu absolutismo da sua associação com o espíritos ancestrais, cujo poder pode invocar para reforçar os seus decretos.
Quando Bert Hellinger começou o trabalho de Constelações Sistêmicas, declarou que tinha sido influenciado pelos seus 20 anos de trabalho com os Zulus na África do Sul. Ele só deu pistas breves e enigmáticas sobre a forma como isto afetou as suas ideias. Não obstante, as raízes destas ideias distinguem-se e são notórias nas tradições tribais ancestrais africanas, e aparecem como algumas das novas contribuições teóricas feitas por Hellinger, contribuindo significativamente para o nosso entendimento sistêmico.
O uso do ritual nas Constelações Familiares, provavelmente foi influenciado por todos os anos em que Bert Hellinger trabalhou como sacerdote Católico. É provável que a influência africana também tenha sido importante, dado que Hellinger experimentou a integração da música e rituais Zulus na missa Católica durante os seus dez anos de trabalho com os Zulus na África do Sul (Hellinger, A Simetria Oculta do Amor p.328).
Hellinger reconhece que aprendeu a fundamental necessidade humana de alinhar-se com as forças da natureza dos Zulus (A Simetria Oculta do Amor p.328). Isto vê-se refletido na forma em que as Constelações Familiares têm efeitos curativos nas famílias, realinhando o sistema familiar com as ordens naturais do amor.
É interessante que uma parte fundamental deste processo é o de reconhecer os previamente excluídos, o que é também uma parte significativa das tradições ancestrais fricanas.
Uma consteladora originária da África do Sul, Lindiwe Mthembu Salter (2008), assinala: “A crença nos antepassados tem as suas raízes na necessidade do desejo de preservar a memória de gerações passadas conhecidas e de linhagens conhecidas ou desconhecidas. A ênfase de reconhecer os excluídos é o fundamento para a cura de vários males, como a incomodidade corporal, desacordo espiritual ou a necessidade normal de desviar a má sorte ou uma praga que seja vista como uma projeção de espíritos malévolos. Os bons espíritos são reconhecidos e agradecidos através de cerimônias ou rituais de purificação. Por exemplo, uma pessoa consulta um curandeiro tradicional que facilitará a sessão para encontrar uma solução ou a raiz do problema. Com frequência, isto faz-se através de atirar ossos para constelar a imagem familiar mais ampla”.
Outros exemplos de idéias de Hellinger que ressoam com as tradições ancestrais africanas são:
• O reconhecimento que os pais biológicos são importantes no sistema familiar, ainda que eles não tenham tido nenhuma outra relação com os seus filhos. Se bem que isto se poderia deduzir dos princípios da terapia contextual de Boszormenyi-Nagy, não se tinha dito antes explicitamente.
• A idéia de que muitas gerações de antepassados são sentidas como um recurso e fonte de energia. Isto inclui o reconhecimento que os nossos antepassados e a nossa família estão profundamente conectados tanto com o bem estar como com a doença.
• A compreensão que o indivíduo é parte integrante da sua família e da sua linhagem ancestral.
Esta ideia reflete-se em muitas culturas, incluindo a dos Maorís da Nova Zelândia, que falam da sua linhagem ancestral como o “whakapapa”
• O alinhamento em termos da ordem na família – quem chega primeiro, a linhagem geracional e a continuidade da árvore familiar, incluindo quem ainda poderia estar causando problemas, até ser reconhecido.
• A importância do efeito da parte excluída ou dos assuntos da vida familiar ou pessoal, seja consciente ou inconscientemente.
• Curando usando símbolos e rituais e conectando com os mortos.
• Honrando os mais velhos e o lugar certo dos mortos
Para mais informação sobre o culto ancestral Africano ver:
Amatongo ou o culto dos antepassados
Antepassados em África: Leituras selecionadas e material do caso Mambila preparado por David Zeitlym como parte do “Experience Rich Anthropology Project” (Projeto Antropológico Rico em Experiência)